quarta-feira, 6 de maio de 2009

2ºA - Vou-me embora pois então

1. Leia o texto com atenção.
Se o disse há que fazê-lo. Rafael vai ser operário. Já há algum tempo que a cerâmica lhe desperta o interesse.
Nas Caldas da Rainha existe uma antiga tradição na cerâmica, embora as coisas estejam agora um pouco paradas. Ora aqui está mais um desafio. Bom sítio para Rafael fundar uma fábrica.
As peças que cria são inovadoras, embora de inspiração naturalista. Já sei, até parece que o Rafael se acalmou. Mas vocês acham que era agora que isso ia acontecer.... nem pensem. A cerâmica vai também servir para aparecerem tipos característicos da nossa sociedade. E eu, claro que também estou no meio, e exprimindo o que faço com um gesto bem simbólico: o manguito (à portuguesa), a banana (à brasileira). Muitos não me conhecerão de outra forma. É mesmo um brincalhão o meu rapaz. Nem com a idade lhe toma o jeito. Não perde a oportunidade de fazer uma brincadeira.
Ainda noutro dia ao saber que um médico, que em tempos não lhe cobrara consulta apreciava uma peça sua, decidiu enviar-lhe um cão de cerâmica. No bilhete escreveu: “Preguei-lhe o cão!”
Mas se pensam que foi agora que deixou as publicações estão muito enganados. Tinham passado três meses do encerramento do António Maria quando apareceu Os pontos nos ii. Rafael vai estando com um pé nas Caldas, outro em Lisboa. De qualquer forma sempre tem o filho Manuel Augusto no jornal. Este já lhe segue as pisadas.
Olha que esta agora!! Não é que a Inglaterra decidiu meter-se nos nossos assuntos? Diz que temos de tirar as tropas do centro de África - um ultimato!!! É no que dá a história das “velhas amizades”. O que eles querem é acabar com o nosso sonho de criar um grande império. Aqui já não há partidos, que somos todos patriotas... Anda daí Rafael, que temos que estar mais tempo em Lisboa.
Que governo que temos... tanto barulho que se fez e acabaram por ceder aos ingleses. Isto de monárquicos é o que dá. Ai que lá vou eu outra vez.
Lá no Porto, a 31 de Janeiro de 1891 a coisas azedaram. Mas a tentativa falhou. Não que não se tivesse lutado. De qualquer forma ganhamos mais força. Não podemos ficar indiferentes. Fialho de Almeida escreve o artigo “A Glória dos Vencidos” n’Os Pontos nos ii. Pronto! Lá se acaba outro jornal que a censura não é para brincadeiras. Pois que renasça o António Maria por mais alguns anos.
Rafael continua a desenvolver a sua fábrica. Ao lado de peças de cerâmica elaboradas surgem também figuras de costumes.
Chegamos a 1900. Rafael lança agora A Paródia. “A caricatura ao serviço da tristeza pública” diz ele. Será que eu sou um Povo triste?
Mas não desanimemos que o Rafael continua a trabalhar. Olha lá vai ele para o Porto. Desta vez tem a seu cargo a decoração dos Fenianos para os festejos de Carnaval.
Não o largo desde que chegou. Não lhe fizeram bem os ares do Norte. Não sei o que tem. Desde o dia 29 de Janeiro de 1905 que adormeceu. Descansa amigo que eu cá vou continuando. Daqui a cinco anos vem a República. Um dia irei contar-te. Essa e outras histórias que me ensinaste a viver.
Tá na hora de partir
pois não posso cá ficar.
Quando de mim precisarem
estou em qualquer lugar.
2. Responda às perguntas conforme o texto.
- Já identificou o autor do texto? Se é assim diga então que é.
- Qual é a importância do manguito ou banana?
- Quem é esse tal Rafael? Explique-o brevemente.
- A que fábrica se faz referência no texto?
- Quem são os «tipos característicos da nossa sociedade»? Assinale pelo menos três e explique-os brevemente.
3. Sabemos do péssimo resultado da «história das “velhas amizades”». Assim sendo, identifique o contexto histórico em que se desenvolve o texto.
4. Explique o sentido da frase: A caricatura ao serviço da tristeza pública.

 
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