1. Leia o texto com atenção.
Obra absolutamente excecional no Portugal quatrocentista, parece não ter tido precedente no panorama pictórico do gótico europeu, nem, tão-pouco, imediata consequência. O seu autor, tudo indica que seja Nuno Gonçalves. A obra de Nuno Gonçalves encontra no Políptico de São Vicente de Fora (c. 1470) - geralmente designado por Painéis de S. Vicente -, um dos momentos exponenciais da pintura quatrocentista portuguesa. Descobertos em 1882 no Mosteiro de S. Vicente de Fora, os Painéis estão atualmente no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, dispostos em forma de políptico horizontal que integra sessenta figuras em tamanho quase natural, ocupando toda a superfície de seis tábuas (da esquerda para a direita: painéis ditos dos Frades, dos Pescadores, do Infante, do Arcebispo, dos Cavaleiros e da Relíquia). A identidade dos representados continua a suscitar acesa polémica iconográfica, sendo, no entanto, certo que esta galeria coletiva de retratos procurou plasmar os grandes vultos da corte de D. Afonso V, envolvido no processo das Descobertas marítimas e na expansão no Magrebe. A partir da publicação do livro de José de Figueiredo O Pintor Nuno Gonçalves (1910), que identifica os painéis como a Adoração a S. Vicente, o qual é representado pela dupla figura de diácono que centra as duas tábuas maiores, multiplicam-se as teses respeitantes à iconografia representada. A polémica irá ser, no entanto, sintetizada em torno de duas propostas: a tese vicentina e a fernandina, da autoria de José Saraiva (1925), que identifica a figura central com o Infante Santo D. Fernando. Hoje parece-nos plausível e lógico, quer pela notícia do pintor ter executado uma obra para o altar de S. Vicente da Sé de Lisboa, quer pelas referências a um monumental políptico dedicado a S. Vicente, quer ainda por elementos simbólicos da própria pintura, designar a figura central como sendo S. Vicente. Também importante é o aspeto técnico da pintura aplicada em suporte de madeira, que acusa uma realização plástica vigorosa e segura, não diferindo materialmente das técnicas tradicionalmente utilizadas em Portugal, pouco tendo de comum com as de outras regiões, nomeadamente da Flandres. Nuno Gonçalves, que o quinhentista Francisco de Holanda colocou entre os mais famosos pintores, ao enumerar as Águias da arte da Pintura europeia, consubstanciou nos Painéis uma das mais brilhantes obras da pintura portuguesa de todos os tempos. Apesar das possíveis influências flamengas e italianas que lhe são atribuíveis, perpassa por esta obra uma individualidade própria dos grandes génios, afirmando-se com um carácter específico. Consegue mesmo libertar-se do peso da tradição flamenga reagindo contra a cópia gratuita da arte italiana, pois as sessenta figuras têm uma forma e uma individualização absolutamente surpreendentes - cada um representa um ser humano cuja personalidade se encontra bem definida, dotada de sentimentos próprios, afastando-se assim de uma mera figuração ideal. Retirando da representação pictórica tudo o que tem um carácter eminentemente acessório, centra-se na intensidade de cada personagem, cujo olhar, um pouco distante, transporta para o seu âmago o objeto da própria pintura. No rigor do retrato alia simultaneamente o realismo e o sentimento, numa pintura que se diria silenciosa mas de forma alguma muda. Estamos já em presença de uma obra singularmente avançada em termos pré-renascentistas, que se afasta decididamente dos limites inventivos e estruturais do mundo gótico. A luz detém um papel de molduração escultórica das figuras cuja volumetria as dispõe hierarquicamente em torno da figura central, num jogo absolutamente equilibrado de correspondências e carregado de simbolismo iconográfico.
Obra de cariz devocional, consagra diante do nosso olhar a sociedade portuguesa, na sua vertente sagrada e profana, ao procurar representar amplos setores sociais. Todo este friso de homens obedece a um movimento geral de orientação em direção à figura do santo, mas pelo conjunto perpassa um grau único de coerência, do qual emana equilíbrio, simetria, verticalidade e volume monumental.
Obra absolutamente excecional no Portugal quatrocentista, parece não ter tido precedente no panorama pictórico do gótico europeu, nem, tão-pouco, imediata consequência. O seu autor, tudo indica que seja Nuno Gonçalves. A obra de Nuno Gonçalves encontra no Políptico de São Vicente de Fora (c. 1470) - geralmente designado por Painéis de S. Vicente -, um dos momentos exponenciais da pintura quatrocentista portuguesa. Descobertos em 1882 no Mosteiro de S. Vicente de Fora, os Painéis estão atualmente no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, dispostos em forma de políptico horizontal que integra sessenta figuras em tamanho quase natural, ocupando toda a superfície de seis tábuas (da esquerda para a direita: painéis ditos dos Frades, dos Pescadores, do Infante, do Arcebispo, dos Cavaleiros e da Relíquia). A identidade dos representados continua a suscitar acesa polémica iconográfica, sendo, no entanto, certo que esta galeria coletiva de retratos procurou plasmar os grandes vultos da corte de D. Afonso V, envolvido no processo das Descobertas marítimas e na expansão no Magrebe. A partir da publicação do livro de José de Figueiredo O Pintor Nuno Gonçalves (1910), que identifica os painéis como a Adoração a S. Vicente, o qual é representado pela dupla figura de diácono que centra as duas tábuas maiores, multiplicam-se as teses respeitantes à iconografia representada. A polémica irá ser, no entanto, sintetizada em torno de duas propostas: a tese vicentina e a fernandina, da autoria de José Saraiva (1925), que identifica a figura central com o Infante Santo D. Fernando. Hoje parece-nos plausível e lógico, quer pela notícia do pintor ter executado uma obra para o altar de S. Vicente da Sé de Lisboa, quer pelas referências a um monumental políptico dedicado a S. Vicente, quer ainda por elementos simbólicos da própria pintura, designar a figura central como sendo S. Vicente. Também importante é o aspeto técnico da pintura aplicada em suporte de madeira, que acusa uma realização plástica vigorosa e segura, não diferindo materialmente das técnicas tradicionalmente utilizadas em Portugal, pouco tendo de comum com as de outras regiões, nomeadamente da Flandres. Nuno Gonçalves, que o quinhentista Francisco de Holanda colocou entre os mais famosos pintores, ao enumerar as Águias da arte da Pintura europeia, consubstanciou nos Painéis uma das mais brilhantes obras da pintura portuguesa de todos os tempos. Apesar das possíveis influências flamengas e italianas que lhe são atribuíveis, perpassa por esta obra uma individualidade própria dos grandes génios, afirmando-se com um carácter específico. Consegue mesmo libertar-se do peso da tradição flamenga reagindo contra a cópia gratuita da arte italiana, pois as sessenta figuras têm uma forma e uma individualização absolutamente surpreendentes - cada um representa um ser humano cuja personalidade se encontra bem definida, dotada de sentimentos próprios, afastando-se assim de uma mera figuração ideal. Retirando da representação pictórica tudo o que tem um carácter eminentemente acessório, centra-se na intensidade de cada personagem, cujo olhar, um pouco distante, transporta para o seu âmago o objeto da própria pintura. No rigor do retrato alia simultaneamente o realismo e o sentimento, numa pintura que se diria silenciosa mas de forma alguma muda. Estamos já em presença de uma obra singularmente avançada em termos pré-renascentistas, que se afasta decididamente dos limites inventivos e estruturais do mundo gótico. A luz detém um papel de molduração escultórica das figuras cuja volumetria as dispõe hierarquicamente em torno da figura central, num jogo absolutamente equilibrado de correspondências e carregado de simbolismo iconográfico.
Obra de cariz devocional, consagra diante do nosso olhar a sociedade portuguesa, na sua vertente sagrada e profana, ao procurar representar amplos setores sociais. Todo este friso de homens obedece a um movimento geral de orientação em direção à figura do santo, mas pelo conjunto perpassa um grau único de coerência, do qual emana equilíbrio, simetria, verticalidade e volume monumental.
Fonte: http://www.infopedia.pt/
2. Defina os seguintes termos e redija uma frase a modo de exemplo.
- Tão-pouco.
- Aceso.
- Vulto.
- Nomeadamente.
- Olhar.
- Perpassar.
- Molduração.
- Afastar.
- Consubstanciar.
- Deter.
- Flandres.
3. Responda com VERDADEIRO/FALSO justificando as respostas marcadas como sendo falsas
- Os painéis de São Vicente são conhecidos desde a sua composição.
- Quem quiser admirar esta genial obra da pintura deverá dirigirse ao Mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa.
- As figuras ali retratadas são bastante fiéis à realidade.
- Esta obra encontra-se alheia a quaisquer correntes pictóricas.
- Os painéis mostram um conteúdo estritamente religioso.
4. Procure informação sobre alguma obra incontornável da pintura portuguesa e redija um breve texto apresentando-a. Não deixe de incluir nele referèncias ao autor, cronologia e relevancia no contexto nacional.