quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

1ºI - Gonçalo Annes Bandarra

1. Leia o texto com atenção.
Em Trancoso nasceu este homem simples, num ano qualquer da graça de Nosso Senhor, presumindo-se nos inícios do séc. XVI ou mesmo em 1500. De seu nome Gonçalo Anes, Bandarra por alcunha, não era sujeito despido de letras e teria nascido em berço rico ou provavelmente remediado. Perdida a fortuna em ignotas empreitadas (de que a alcunha é evidência), para acudir à sua pobreza tomou o ofício de sapateiro de correia, o que quer dizer que fabricava calçado e o remendava quando solicitado. Da figura deste “Nostradamus” português, possuímos uma gravura do séc. XVII, publicada na primeira edição de 1603, desenhada por autor desconhecido para o rosto da primeira edição levada ao prelo por D. João de Castro. Conhece-se a assinatura do profeta nos autos do Santo Ofício e por esta finada instituição de martírio todos os passos do sapateiro entre 1538 e 1541.
E em 1531, já conhecido como áugure e poeta, surgiu em Lisboa, onde se aboletou em casa de um livreiro judeu, de nome João de Bilbis. Nessa passagem a sua fama ia adquirindo perplexidades entre os judeus ou cristãos-novos. Seis anos depois, o manuscrito foi copiado por Heitor Lopes, tosador em Trancoso. No ano de 1538, de novo em Lisboa, as cópias surgiam já por toda a parte. Na capital, a população judaica alvoroçava-se com a vinda do Messias e, à sua maneira, interpretava as coplas do profeta. A obra tornou-se um deslumbramento e um alvoroço se formou no País, de tal modo que desencantou os ouvidos, sempre atentos, da Inquisição e ia tornar-se uma dor de cabeça para o autor. Acusavam-no, entre outras coisas, de “ser amigo de novidades e com elas causar alvoroço em cristãos-novos”.
Assim foi que um tal Afonso de Medina, comissário do Santo Ofício, achou que as profecias alvoroçavam muita gente. Em consequência, Bandarra foi preso em Trancoso e remetido para as casas do despacho da Santa Inquisição, em Lisboa, onde ficou encarcerado. Durante o processo e os interrogatórios não ficou provada a ascendência judaica do sapateiro profeta (e porventura não a teria mesmo). Entrou, pois, como era de etiqueta, na procissão de um auto de fé, celebrado em Lisboa nos paços reais da Ribeira, a 23 de Outubro de 1541.
No auto que lhe foi lido, estando ele a penitenciar-se em pé com círio amarelo em punho, a determinado passo ficou a proibição: “que daqui por diante se não entremeta mais a responder nem escrever em nenhuma cousa da Sagrada Escritura, nem tenha nenhuns livros da mesma...”
Com a sua veia profética, Bandarra não conseguiu receber, para além de uma boa carga de dissabores, um único tostão. Regressou o pobre Gonçalo Anes Bandarra a Trancoso, onde se agasalhou até à morte, a qual terá ocorrido em 1545, por tal data ter sido mandada lavrar, por D. Álvaro de Abranches, no seu túmulo, do lado da Epístola, na igreja de São Pedro. Lá podem ler:
Aqui jaz Gonçaliannes Bandarra natural desta Vila que profetizou a restauração deste Reino, e que havia de ser no ano de seiscentos e quarenta por el-rei D. João o quarto nosso Senhor, que hoje reina, faleceu na era de mil e quinhentos, e quarenta e cinco. Esta sepultura mandou fazer D. Álvaro de Abranches sendo general da província da Beira, e se acabou governando nela as armas João de Saldanha de Sousa a vinte e oito de Fevereiro de mil seiscentos e quarenta e dois.
Fonte: http://santoscosta.com (Adaptado)
2. Defina os seguintes termos.
- Berço.
- Ignoto.
- Empreitada.
- Finado.
- Prelo.
- Áugure.
- Aboletar.
- Tosador.
- Agasalhar.
3. Responda às perguntas conforme o texto.
- O qué é que significa que o Bandarra "não era sujeito despido de letras"?
- Que facto vem a justificar a alcunha do sapateiro?
- Qual foi a repercusão das Trovas?
- Além de grande popularidade, a divulgação das Trovas causou-lhe também...
- Qual foi a sentença à que o sapateiro foi condenado?
- Resultou toda esta movimentação nalgum lucro para o poeta?
4. No texto aparce a flexão plural do susbtantivo composto cristão-novo. Faça agora o plural dos seguintes substantivos compostos.
- Água-de-colónia.
- Guarda-sol.
- Pisa-papéis.
- Pisca-pisca.
- Alto-forno.
- Passatempo.
- Malmequer.
- Pão-de-ló.
- Mula-sem-cabeça.
- Tenente-coronel.
- Água-marinha.
5. Comente o seguinte trecho.
O verdadeiro patrono do nosso País é esse sapateiro Bandarra. Abandonemos Fátima por Trancoso. Esse humilde sapateiro de Trancoso é um dos mestres da nossa alma nacional, uma das razões de ser da nossa independência, um dos impulsionadores do nosso sentimento imperial. Esse Bandarra é a voz do Povo português, gritando, por cima da defecção dos nobres e dos clérigos, por cima da indiferença dos cautos e dos incautos, a existência sagrada de Portugal.

 
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